Este trecho do livro de DOMINGOS MEIRELLES traduz momentos de alguma descontração e desfrute vividos pelos revolucionários. Não se engane o leitor - como ficará mostrado nas postagens seguintes: cada palmo vencido pelos integrantes da Coluna Prestes-Miguel Costa foi superado à custa de muito sacrifício. Mas vamos ao relato do gosto dos oficiais rebelados pelos livros.
"DESLOCANDO-SE SEMPRE EM MARCHA BATIDA, desde que penetraram nos sertões, os oficiais do Estado-Maior viram-se também obrigados a abandonar um dos poucos prazeres a que se permitiam: o habito da leitura, partilhado por quase toda a oficialidade, entretenimento que cultivavam desde o Paraná. Durante as longas caminhadas, a maioria dos oficiais cavalga sempre com um livro aberto. Siqueira Campos, leitor inveterado, é o que mais lê entre os membros do Estado-Maior. Ninguém entende muito onde consegue aquela montanha de livros. Juarez Távora era sempre o primeiro a herdar o que ele terminava de ler. Absorvido pela leitura da Divina Comédia de Dante, Juarez, durante a campanha do Mato Grosso, foi apanhado certa vez por um galho que o derrubou do cavalo, provocando uma risadeira gera. Ao vê-lo caído no chão, Miguel Costa, em vez de ajudá-lo a se levantar, ainda o alfinetou com deboche:
- Como é, seu manguari -pistola, você está pensando que isso aqui é um clube de leitura?
Outro que lê muito é João Alberto. Ele carrega, em sua bagagem, encadernados, os 21 volumes da "História Universal", de Cesar Cantu, além de outros livros que arrebatou da biblioteca de um advogado que apoiava o governo, em Porto Nacional, interior de Goiás. Para evitar o que acontecera com Juarez, mantém um ordenança cavalgando à sua frente, puxando as rédeas do animal, para alertá-lo sempre que um galho perigoso se debruçava sobre o caminho.
Os livros passam de mão em mão, às vezes os capítulos são arrancados e distribuídos entre a oficialidade para que todos possam ler. Por isso é comum, muitas vezes, começarem a ler um livro do meio para o fim, ou do começo para o meio, Lê-se durante as marchas e também quando se acampa."
(páginas 505/506)
ILUSTRAÇÃO: Tenente Siqueira Campos. Líder da Revolta dos 18 do Forte, aos 24 anos. Foi um dos comandantes da Coluna. Morreu em 1928, em circunstâncias suspeitas: o avião que o conduzia para o Brasil, em missão revolucionária - derrubar o governo W. Luís, caiu no Rio Uruguai. Suspeita-se que tenha sido encontrado com vida por agentes da polícia política brasileira, e assassinado.
Um comentário:
Eu aproveito este comentário para comentar um outro fato. Vi que você citou o livro "Ladeira da Memória" e imediatamente fiz a referência a uma música chamada também Ladeira da Memória que foi gravada pela Clara Sandroni, por sinal, excelente cantora.
Como eu sei que você aprecia boas canções, acredito que vá procurá-la na Internet. Infelizmente, eu não a tenho aqui.
Grande abraço.
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