Amedrontadas com os bombardeios inflingidos pelos legalistas, 300 mil pessoas fugiram de São Paulo em em duas semanas. Sua população, em 1924, era de 700 mil habitantes.
"Há três dias que o os trens deixam a estação da Luz e a Sorocabana apinhados de refugiados. A população vai, aos poucos, abandonando São Paulo, em busca de refúgio no interior. Famílias inteiras se amontoam nas plataformas das estações, na esperança de conseguir uma vaga nos vagões de carga e de transporte de animais que levam diariamente milhares de pessoas para Campinas. Todos querem escapar do bombardeio, que já dura quatro dias. Espremidas entre sacos e malas, muitas pessoas acabam também viajando penduradas nas grades, do lado de fora dos vagões (...) Só a estação da Luz está vendendo diariamente mais de dez mil passagens por dia.
A estradinha de terra para Campinas e Jundiaí está coalhada de cerca de dois mil automóveis, entre táxis e carros particulares superlotados, uma fila irregular que se estende por todo o caminho, em meio a centenas de carroças, charretes e caminhões repletos de refugiados com suas trouxas, cestas e colchões. Milhares de pessoas que não conseguiram nenhum tipo e condução fogem a pé. A cidade não está sendo abandonada apenas pela população modesta dos bairros proletários do Brás e da Mooca, onde o Governo despeja o seu ódio com maior vigor. A presença de luxuosas e reluzentes limusines, com pára-brisa de cristal, que podem ser contadas às dezenas, indica que os moradores das áreas mais nobres também estão fugindo, com medo de que o bombardeio acabe alcançando as zonas mais chics da capital.
(...)
Depois de peregrinar durante várias horas pela periferia de São Paulo, o jornalista consegue atravessar as linhas legalistas e alcançar, em segurança, a vila de São Bernardo. Ao longo da estradinha de terra que desemboca em Guaiaúna [base dos legalistas], Paulo Duarte vai encontrando levas de refugiados, em sua maioria habitantes do bairro da Penha, que dois dias antes foram escorraçados de São Paulo pela artilharia do Governo. Nas duas margens do caminho podem ser vistas, ao longe, imensas barracas de lona que abrigam centenas de famílias, na maioria italianas, enxotadas do Brás pelos canhões do Exército. A multidão de crianças e mulheres a circular entre as barracas à procura de água e comida exprime a dimensão da crueza e a impiedade do bombardeio que há quinze dias castiga a população de São Paulo."
lustração: Famílias paulistanas em retirada.
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