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20 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ - UMA REFLEXÃO PICTÓRICA

O blog não poderia deixar passar em branco a efeméride do aniversário dos vinte aninhos da Constituição Cidadã, promulgada em 5 de outubro de 1988. Prenhe de direitos, loquaz na dicção de garantias, todo esse caudal de normas lamentavelmente sucumbe a uma realidade pérfida e desigual, onde o direito verbera mas não molda.

A propósito do acontecimento, festejado em congressos, seminários, cursos, sessões públicas, concursos de redação, aulas magnas, jantares dançantes, e até mote de samba-enredo, vai aqui, como contribuição e preito de lembrança, uma charge que diz mais do que mil tratados.

Uma saudação aos que a respeitam e aos que lutam por sua proeminência.

O artista é Jean e o trabalho foi publicado na Folha de S. Paulo do dia 07.11.08.

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Ler e escrever.

"Quando sofro um assomo de sabedoria e me considero razoavelmente informado, costumo ler bulas de remédio para sentir a humilhação de não entender nada do que estou lendo." (Carlos Heitor Cony)

"A luta contra o erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente invisíveis. Mas assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas. Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar." (Monteiro Lobato)

"A primeira condição de quem escreve é não aborrecer." (Machado de Assis)

"Se você não tricota, leve um livro para ler." (Doroty Parker)

"Escrever é fácil: você começa com uma letra maíuscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias" (Pablo Neruda)

"A leitura é parte da criação da obra, que é permanente e infinita (Bernardo Carvalho)

"Escrever bem é dizer sem esforço" (A. Mandril)

A TRADUÇÃO - POR BORIS SCHNAIDERMAN

"Geralmente se pensa que a tradução é uma profissão como outra qualquer, basta a gente traduzir honestamente, como artesão, o que está no original, em bom português etc. Mas a tradução é uma obra criativa. É um ato desmedido. Traduzir é uma exorbitância: quem sou eu para traduzir Dostoiévski? E no entanto eu tenho que traduzir Dostoiévski. Tradução tem que ser um ato ousado, corajoso, o tradutor tem de ser artista, tem de fazer violência com a linguagem. É uma profissão a princípio impossível. Mas o homem só cria algo de fato grande quando trabalha no campo do impossível, como formulou Ortega y Gasset.
(...)
Eu acho que o tradutor realmente tem que estar sempre criando na língua em que escreve. Essa noção de transcriação para mim é fundamental"

LIVROS COMO ORNAMENTOS, LIVROS DE DECORAÇÃO

“Que me interessam esses milhares de livros, essas inúmeras bibliotecas? A vida inteira de seus proprietários mal chegaria para lhes lerem os títulos...Tal homem possui livros que nunca lhe servem nos estudos, mas está lá para lhe ornamentar a sala de jantar... Hoje os próprios banhos e termas estão guarnecidos com uma biblioteca, tornada ornamento obrigatório de cada casa... Não se procuram obras-primas a não ser para enfeitar paredes.”

(Sêneca, Tratado Acerca da Tranquilidade da Alma, há dois mil anos)

CONCEDA A ALGUÉM O LUXO DA ÁGUA POTÁVEL

A ÁGUA POTÁVEL, a água limpa, também conhecida nos dicionários como aquela própria para consumo humano (Caldas Aulete), não faz parte da dieta de mais de 18 milhões de seres humanos brasileiros. Ao clicar na imagem aí de cima vocês irão para uma página da Cáritas, entidade ligada à Igreja Católica, que mantém o programa “Convivendo com o Semiarido”. Clicando sobre uma gotinha você agrega audiência e empresas e entidades que apóiam o Programa, como o "Comitê Betinho" contribuem na construção de cisternas caseiras de placa e pequenas outras obras hídricas nas comunidades.

OS MELHORES CONTOS QUE A HISTÓRIA ESCREVEU. Ed. Nova Fronteira. 560 p. R$ 59,90

Taí uma coletânea interessante, onde a História é o elemento a ambientar a ficção. O organizador, Flávio Moreira da Costa, colecionou contos relacionados com importantes fatos históricos do Brasil e da humanidade, escritos em letras magistrais. Destaca-se, da coletânea, conto de Domingos Pellegrini, que retrata o episódio do suícídio de Getúlio Vargas, narrado por um menino de dez anos. Passa-se na periferia de uma cidade grande e relata a perplexidade da avó, ao receber a notícia pelo rádio. Traz a revolta do pai, emoção encorajadora de um fogo homérico e os senões do tio comunista. A recusa de um "chapa" em descarregar o restante de sacos trigo de um caminhão, em sinal de respeito contristado pela morte de Getúlio é um dos pontos fortes da história. O fato, que o menino presencia quando vai à venda buscar pinga para o pai, causa a ira do dono do estabelecimento (temeroso de perder a carga, pois a chuva ameaçava cair...) . - O Getúlio morreu e eu não descarrego mais, dizia o "chapa", depois de mandar um gole de cachaça. O comerciante chamou a rádio-patrulha. Questão social, caso de polícia, como diria Whashington Luís, aquele que fora deposto por Getúlio...

CONTOS E CRÔNICAS QUE SUGERIMOS

O ADEMARISTA. - De Marcos Rey.
Mostra uma acirrada eleição para o governo de São Paulo, em que se enfrentam Jânio e Adhemar. O personagem que narra a história é um motorista de táxi, ademarista doente.
Escrito em ritmo frenético, retrata com esmero a emoção das alterações de resultado, que ora indicavam um, ora outro postulante na ponta. Isto ao sabor da somatória dos votos que chegam das várias seções eleitorais.
Interessante a descrição dos logradouros percorridos pelo taxista.

HERÓI MORTO. NÓS. - De Lourenço Diaféria.
Publicado na Ilustrada da Folha de S.Paulo, nos meados dos anos 70, comenta a ação de um bombeiro se atirou num tanque, para salvar uma criança do ataque de uma ariranha. Diaféria, que usava o jargão "sempre tem um porém...", traz o fato como gancho para, cutucando Caxias, patrono do exército, alcançar o governo militar.

CEGO E AMIGO GEDEÃO À BEIRA DA ESTRADA. - De Moacyr Sclyar.
Enquanto conversam o cego e seu amigo, aquele insiste em apontar, pelo ronco do motor, a marca e o ano dos carros que passam a estrada. E erra, todas, como lhe aponta amigo, no decorrer da prosa. Final surpreendente.

Bibliotecas em paradas de ônibus

Livros que retirei de biliotecas instaladas em três diferentes pontos de ônibus de Brasília (DF):

QUARUP, de Antonio Callado (ZAHAR, 2a. Edição, 1967). Com uma dedicatória tocante, assinada no mês de janeiro de 1968. Li quando tinha uns 12 ou 13 anos; releio agora, trinta e tantos anos depois. Vou falar disso. Ler um livro em duas situações diferentes, separadas por mais de 30 anos...

ANTOLOGIA DA ELOQÜÊNCIA UNIVERSAL - DE PÉRICLES A CHURCHILL, de Antônio Faustino Pôrto Sobrinho (edição de 1961). Uma coletânea de grandes discursos. Robespierre, Padre Vieira, Lincoln, Ruy, Anatole France, o Canalha Lacerda, Churchill, Cícero, Vitor Hugo... O livro está acabadinho da silva. Vou dar um trato antes de devolver. Melhor: antes de ler.

A LADEIRA DA MEMÓRIA, de José Geraldo Vieira. (PLANETA, edição de 2003, capa dura, excelente estado de conservação. Escolhi pelas referências, trazidas na contra-capa. Destaco estas:

"Os livros de José Geraldo Vieira são os mais cosmopolitas que já se escreveram em língua portuguesa." (Alfredo Bosi)

"José Geraldo Vieira, esse mestre da prosa de lingua portuguesa." (Manuel Bandeira)

"Na literatura brasileira José Geraldo Vieira guardará o mérito de ter levado a cabo a ruptura mais pertinente com a aparência sensível, abrindo deste modo uma nesga para explorações mais ousadas da alma humana." (Antonio Candido).

"BIBLIOTECA DO TRABALHO"

O título acima é chamada do site do "Núcleo de Estudos e Referências sobre Trabalho, Trabalhadores e Sindicatos da UNIRIO" . Conduz para uma seletíssima bibliografia sobre a questão do trabalho e das lutas sociais e políticas do Brasil, a partir dos primórdios da república. Como se não bastasse, traz a sinopse dos livros indicados, em curtos textos que geralmente reproduzem a contracapa da obra. Algumas indicações com acesso a índice, reprodução da capa e ficha catalográfica.
Um passeio e tanto.

FEIRA DE LIVROS DA USP

Já virou evento datado: As feiras de livros universitárias.
Durante todo o ano, livreiros de várias editoras percorrem os vários campi e montam barracas e mais barrracas com livros. Um dos diferenciais são justamente as editoras universitárias. E o preço, ou melhor, os descontos. Contrariamente às feiras tradicionais (FLIP, Bienais do Rio e São Paulo, Feira do Livro de Ribeirão Preto, etc), nas Feiras Universitárias os bons preços são um atrativo marcante.
Tivemos uma agorinha, no mês de maio, aqui no campus da USP de Ribeirão. Poucas bancas, bem menos do que no ano passado. Mas com muita coisa boa. Destaque para a Boitempo, Editora Unicamp e a Konrad.
Comprei dois livros: "Evaristo de Moraes, Tribuno da República", de Joseli Maria Nunes Mendonça, e "Proletários de Casaca", de Fabiane Popinigis. Ambos da Editora Unicamp. Sobre o primeiro já falamos neste blog.
Quanto ao "Proletários de Casaca", o texto da contracapa conta que a obra "...aborda diferentes aspectos da vida dos trabalhadores do comércio do Rio de Janeiro desde a década de 1850 até a primeira do século XX, examinando suas relações de trabalho e sociabilidade, condições de moradia e momentos de lazer.
No pequeno comércio, a labuta diária dos caixeiros, como eram chamados, misturava-se aos momentos em que eles se divertiam entre si e com outros trabalhadores que frequentavam os bares, botequins, restaurantes, armazéns e confeitarias. A pesquisa abrange, ainda, as formas de organização política e outros aspectos da experiência desse importante grupo de trabalhadores pobres urbanos".

ÚLTIMAS LEITURAS

A VIAGEM DO ELEFANTE = JOSÉ SARAMAGO
O BEIJO DA MORTE = CARLOS HEITOR CONY e ANNA LEE
ESCREVENDO PELA NOVA ORTOGRAFIA = Coord.e Assistência Técnica, JOSÉ CARLOS DE AZEREDO
O TRIGRE BRANCO = ARAVIND ADIGA
HOMENS INVISÍVEIS: RELATOS DE UMA HUMILHAÇÃO SOCIAL = FERNANDO BRAGA DA COSTA
A REGRA DO JOGO = CLÁUDIO ABRAMO
HOMEM NO ESCURO = PAUL AULSTER
EVARISTO DE MORAES, TRIBUNO DA REPÚBLICA = JOSELI MARIA NUNES MENDONÇA
QUARUP = ANTONIO CALLADO
A EVOLUÇÃO DA INDENIZAÇÃO POR ADICENTE DO TRABALHO = SERGIO PARDAL FREUDENTHAL
OUVINDO ESTRELAS, AUTOBIOGRAFIA = MARCO MAZZOLA
ESTRATÉGIAS DA ILUSÃO - A REVOLUÇÃO MUNDIAL E O BRASIL = PAULO SÉRGIO PINHEIRO
VIDA E ÉPOCA DE KID TROVÃO = BILL BRYSON
JOÃO SALDANHA: UMA VIDA EM JOGO = ANDRÉ IKI SIQUEIRA
AS NOITES DAS GRANDES FOGUEIRAS = DOMINGOS MEIRELLES
MENDIGOS E ALTIVOS = ALBERT COSSERY
1930 - OS ÓRFÃOS DA REVOLUÇÃO = DOMINGOS MEIRELLES
VALE TUDO - O SOM E A FÚRIA DE TIM MAIA = NELSON MOTTA
CAJURU: UM OLHAR SOBRE A HISTÓRIA DO MUNICÍPIO = ÉRIKA MORETINI
OS TROPEIROS - DIÁRIO DA MARCHA = JOSÉ HAMILTON RIBEIRO
PURGATÓRIO - A VERDADEIRA HISTÓRIA DE DANTE E BEATRIZ = MARIO PRATA
O CÓDIGO DA VIDA = SAULO RAMOS

SANGRIA

O trecho hoje postado (29 de janeiro de 2008) faz o relato da vinda ao Brasil de uma missão de burocratas ingleses, em 1924. Em seu relatorio final os britanicos recomendam rigor no controle do déficit fiscal, privatização de estatais e mudanças na Constituição, de molde a adequá-la às exigências do mercado. Impossível não recordar das missões de auditoria do FMI - Ana Maria Jull à frente -, as reformas de FHC e a obsessão do governo Lula em pagar juros e mais juros. Perigoso confundir com a ultima edicão de um diario dos nossos dias.
E para que ninguém se engane: a dívida pública, seja interna ou externa, é, como advertiria o Ministério da Saúde, causadora de dependência e transforma o Estado, em última instância, em poderoso instrumento canalizador das riquezas do país para as mãos dos credores.

ISTO É REPÚBLICA VELHA. PARECE NOTÍCIA FRESCA.

"O Congresso Nacional é a fonte de corrupção do regime, é a massa plástica de todas as imoralidades que deprimem e aviltam a nacionalidade (...) É assim o Congresso Nacional, uma cidadela de negocistas repelentes, a sangrar o erário debilitado (...) É esse reduto de desfribados o gerador das discórdias políticas que dividem a família brasileira (...) Para que serve esse congresso despudorado, traficante, desacreditado perante a opinião pública?"
(Jornalista Mário Rodrigues, 1927).

"Todas as rendas nacionais estão oneradas pelos empréstimos estrangeiros"(Luiz Carlos Prestes, 1930, em manifesto que assinalou a identidade de propósito dos candidatos das oligarquias - Júlio Prestes e Getúlio Vargas -, e criticou a adesão tenentista ao movimento contra Washington Luís).

Para a compreensão dos leitores.

Este blog está no seu número Zero. Estamos, para usar o jargão dos doutos da telemática, e o fraseado das moças do telemarketing, operando em estágio Beta. Beta é isso: teste. O "estamos operando em estágio experimental" agora é Beta.
Por isso, o leitor verá, em certos momentos, a nossa nenhuma parcimônia na utilização da vasta gama (embora, fiquemos acordados: o estágio, aqui é, no sentido cibernético, Beta) de fontes, granulações, cores, e demais recursos tipográficos ao alcance da nossa modesta capacidade de operação (e de inteligência, também).
proximapagina@gmail.com

AGORA É ASSIM:

Deixando de de lado, transitoriamente, o ANDARILHO DAS ESTRELAS, de Jack London, bandeemo-nos para JOÃO SALDANHA: UMA VIDA EM JOGO, de André Iki Siqueira. Um livro ricamente ilustrado, até pesado de tanta tinta. Segundo conta Juca Kfouri, o autor pretendia, inicialmente, produzir um roteiro de cinema sobre a vida de João Saldanha. Seu trabalho acabou por render, também, e, pelo que sei, principalmente, este baita livro. Muitíssimas histórias. Com um complicador que eu não vi - com tal intensidade - na biografia qualquer outro personagem: não ser incomum a existência de mais de uma versão para um mesmo episódio envolvendo Saldanha.
Sua trajetória, digna de um Marco Polo do século XX rendeu-lhe a aura de um contador de estórias, de um inventor: Estivera com Mao, quando da chegada da Grande Marcha em Pequim, fizera a cobertura da Guerra da Coréia, assistira à Copa de 54, entre outras proesas. Conquanto a biografia deixe clatro que o João era um bom contador de causos, exagerasse e fosse, digamos, muito criativo, ele esteve, sim, com Mao, e, também, cobriu a Guerra da Coréia. A biografia mostra um militante comunista despreendido e inteiramente voltado à causa. Sua participação na Guerrilha de Porecatu, na Região de Londrina, como representantedo Comitê Central do PCB. O tiro que acertou seu pulmão, na invasão policial à sede da UNE, em 1949, em ato público contra a produção de bombas atômicas. A negociação com Jânio Quadros, sobre possível apoio do PCB, na eleição contra Adhemar, pela Prefeitura de S. Paulo. Condução da Greve dos 300 mil, em 1953, em São Paulo. Viagens pelo Botafogo e pela Selelção brasileira, viagens pelo Partido. Tiros. A carta de ruptura enviada pela namorada que fora a Moscou, interceptada pela direção do Partido. As transmissões de rádio. A amizade com Sandro Moreira, Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta. Villas Boas Correa. Tiros. A briga com Armando Nogueira. As brigas com Castor de Andrade. A briga com Manga. Tiros. Isso sem falar em futebol.

AGORA É ASSIM:

Brindamos a São Paulo, no seu aniversário, e trazemos duas postagens que contam o episódio talvez mais épico, árduo, intenso e ignorado da história da cidade, que foi a Revolução de 1924.
Nada se fala e pouco se conhece sobre aqueles vinte e tantos dias verdadeiramente explosivos a que se sujeitou, ela, a cidade, e sua população, sob o ataque inclemente das tropas governistas.
Até por isso - o quase nenhum interesse que o fato histórico atrai - o movimento foi designado, também, como A Revolução Esquecida. Não foi bolinho viver em São Paulo naqueles idos de julho e agosto de 1924...

AGORA É ASSIM:

Relataremos para vocês trechos de "AS NOITES DAS GRANDES FOGUEIRAS", de Domingos Meirelles. O livro retrata a trajetória da Coluna Miguel Costa-Prestes. Os primeiros capítulos trazem a irupção da Revolução de 1924, comandada por Isidório Dias Lopes, e com objetivo de derrubar o Presidente Bernardes.
Fatos da cidade de São Paulo na madrugada da deflagração do movimento - uma grande festa para homenager a independência dos EUA, num elegante hotel, a chuva que afastava o habitual público noturno da região central, a estratégia dos revolucionários, de se locomoverem em táxi, para tornar oculta movimentação que pudesse alarmar o governo, a descrição de logradouros percorridos pelos revoltosos, a neblina e o frio - compõe um belo pano de fundo que o Autor se vale, enquanto segue a apresentar a dinâmica daquele conflito.
Domingos Meirelles, vocês sabem, também escreveu o "1930 - OS ÓRFÃOS DA REVOLUÇÃO", que eu tenho mencionado bastante, aqui.

"OUVINDO ESTRELAS", autobiografia de Marco Mazzola. Marco Mazzola é um dos produtores musicais mais reconhecidos no país, e conceituadíssimo no exterior. Deixo para o crítico musical Tárik de Souza a apresentação do livro, trazida na contracapa do livro:
"Uma parte significativa da consistência da MPB dos últimos trinta anos tem a mão do artesão Marco Mazzola. Produtor sem preconceitos de estilos e tendências, ele alicerçou discos fundamentais de Elis Regina, Jorge Ben, Chico Buarque, Raul Seixas, João Bosco... De atuação internacional relevante, incluindo vários festivais como o de Montreux, na Suíca, ele também formatou gravações de Paul Simon, Manhatan teransfer e do cubano Amaury Guitierrez..."

"OS MELHORES CONTOS QUE A HISTÓRIA ESCREVEU", organizado por Flávio Moreira da Costa. Um tesouro, a melhor qualificação para o livro.
Passe numa livraria e confira: Leia um texto curtíssimo, de três páginas, do russo Issac Babel. Chama-se "LINHA E COR". Retrata o período final do governo social democrata e de transição de Alexandre Kerensky, em 1917, no processo de consolidação da Revolução Russa.

AGORA É ASSIM

Traremos um comentário - a partir da leitura de AS NOITES DAS GRANDES FOGUEIRAS - sobre o criminoso de guerra Arthur Bernardes. Tal qualificativo se justifica pelo fato do Presidente Bernardes haver adotado, para debelar a Revolta de 1924, os chamados "bombardeios terrificantes". Uma estratégia de guerra defendida por generais germânicos do Séc XIX, que consistia em atacar alvos civis, "como forma de obrigar a população a acelerar o processo de capitulação" do inimigo, ação esta, evidentemente, reprovada no Direito Internacional.
Na primeira semana dos bombardeios o alvo das tropas governistas foi a população civil, e não as bases dos combatentes. Prova disso é que, nos primeiros dias do conflito, morreram mais de uma centena de civis e nenhum combatente.
Há um detalhe que ajuda a compor o perfil de Bernardes e mostra que ele era de fato um homem de classe: Ordenou que canhoneio fosse iniciado e dirigido preferencialmente contra os bairros pobres da cidade, onde morava a população proletária. Não bastasse a indignidade da opção pelos bombardeios terrificantes (e, vejam só, contra os seus nacionais), Bernardes, até neste desígnio macabro, mostrou sua condição de classe. Evidente que os bombardeios não deixaram de atingir, no decorrer do conflito, a regiaão central da cidade.

Na REVISTA STUDIUM (clique aqui) vocês encontrarão dois interessantíssimos ensaios fotográficos que mostram a cidade de São Paulo, em julho de 1924, durante os bombardeios. Vale a pena um passeio por lá. Trata-se de uma revista eletrônica de fotografia, produzida por pesquisadores da UNICAMP.

Começo de janeiro: AGORA É ASSIM:

Terminado o "1930", de DOMINGOS MEIRELLES, ficamos devendo algumas transcrições.
Recolheremos frases-síntese sobre os protagonistas do enredo: Prestes, Oswaldo Aranha, Getúlio Vargas, Antonio Carlos, João Dantas, João Pessoa e Washington Luís.
Mas, para dar uma sumariada ficamos assim:

O movimento de 30 foi um golpe de estado civil-militar. Confronto de elites, de facções das oligarquias que - há pelo menos dois anos - partilhavam o poder sem dissensões mais expressivas.
Os próprios nomes que encabeçaram a revolta vitoriosa evitaram até o último instante uma solução de ruptura. Até o episódio do assassinato de João Pessoa - fato absolutamente estranho à disputa pelo poder político - o encaminhamento dos chefes (Borges de Medeiros, Antonio Carlos, Vargas e João Pessoa) era pela aceitação da vitória de Júlio Prestes, nome imposto por W. Luís. Tanto assim que Oswaldo Aranha, insatisfeito com a relutância do comando em deflagrar o golpe, deixou o governo Vargas e manifestou sua decepção diante da relutância dos revolucionários.
Tirante a bandeira do voto secreto, nada diferenciava o Governo dos oposicionistas. Durante a campanha eleitoral, as fraudes, os votos a bico de pena, a conduta leviana foi a marca dos dois grupos.

Um livro de primeira linha:MENDIGOS E ALTIVOS, de ALBERT COSSERY. A história se passa no Cairo - anos 50 - e mostra um professor de universidade que abandona a carreira e para viver como mendigo. Vou reproduzir algumas passagens para vocês.

Hoje terminamos a leitura de VIDA E ÉPOCA DE KID TROVÃO, de BILL BRYSON. Taí um cronista de primeira. No KID TROVÃO o autor mostra como foi crescer nos Estados Unidos da América nos anos 50, década daquilo que poderíamos chamar a Revolução do Consumo. Bryson relata sua infância e adolescência, vividas na cidade de Des Moines, Iowa, no centro norte dos EUA. Anticomunismo, macartismo (com o perdão da redundância e complementariedade dos termos), testes atômicos, indústria do cinema, explosão de consumo, riqueza, preconceito, conservadorismo. Vamos postar, aí do lado, um trecho em que Bryson conta pronunciamento de Kenedy, acerca da crise dos mísseis, em 1962.

TUDO É FALSO.

"...tudo é falso, tudo é mentira: mentira a data oficial do descobrimento do Brasil; mentira a emancipação política; mentira a independência; mentira o juramento do príncipe regente; mentira o segundo reinado; mentira a Abolição; mentira a fundação da República, que não passou de uma quartelada; mentira as eleições; mentira a representação parlamentar... O país está nas mãos ávidas e rapaces de oligarquias constituídas, de negocistas sem escrúpulos, de espertalhões, de politiqueiros cínicos."
(Everardo Dias, 1920/1930)

PRISÃO

"Daqui de cima, no pavimento superior, pela janela gradeada da Cadeia onde estou preso, vejo os arredores da nossa indomável Vila sertaneja.
O Sol treme na vista, reluzindo nas pedras mais próximas. Da terra agreste, espinhenta e pedregosa, batida pelo Sol esbraseado, parece despreender-se um sopro ardente, que tanto pode ser o arquejo de gerações e gerações de Cangaceiros, rudes Beatos e Profetas, assassinados durante anos e anos entre essas pedras selvagens, como pode ser a respiração dessa Fera estranha, a terra - esta Onça Parda em cujo dorso habita a Raça piolhosa dos homens. Pode ser, também, a respiração fogosa dessa outra Fera, a Divindade, Onça-Malhada que é a dona da Parda, e que, há milênios acicata a nossa raça, puxando-a para o alto, para o Reino e para o Sol."
(ROMANCE D'A PEDRA DO REINO, Ariano Suassuna)

"O mais desconcertante era a aparente ampliação do cérebro. Mesmo sem ter ultrapassado as paredes do meu crânio, parecia-me que a periferia do meu cérebro já estava fora do meu crânio e continuava a se expandir. Junto com esta, ocorreu uma das mais admiráveis sensações ou experiências que já encontrei. Tempo e espaço, enquanto substância da minha consciência, passaram por um enorme alargamento. Assim, sem abrir os olhos para verificar, eu sabia que as paredes da minha cela estreita tinham recuado até que a cela se tornasse um imenso salão. Enquanto contemplava, eu sabia que as paredes continuavam a recuar. Por um momento assaltou-me uma fantasia: se uma expansão semelhente estivesse ocorrendo com toda a prisão, então os muros de San Quentin estariam distantes no Oceano Pacífico, por um lado, e no outro lado tocariam o deserto de Nevada. Uma outra fantasia: já que a matéria podia permear a matéria, então as paredas da minha cela poderiam perfeitamente permear os muros da prisão, ultrapassar os muros da prisão e assim colocar minha cela fora da prisão e colocar-me em liberdade. É claro que tudo isso não passava de fantasias da minha imaginação - e eu sabia, naquele instante, que assim era.
E então, com lampejos de luz, eu estava fora, eu estava longe. Num salto, pulei o teto da prisão e o céu da Califórnia e estava entre as estrelas. Digo 'estrelas' deliberadamente. Caminhei entre as estrelas. Eu era uma criança. Eu vestia uma túnica diáfana de algodão, de tons delicados, que temeluzia a gélida luz estelar."
(O ANDARILHO DAS ESTRELAS, Jack London)