MARX NA CAATINGA.Cordel de Evaldo Araújo.


KARL MARX MATUTO
Evaldo Araujo

Karl Marx, cabra andarilho,
Que usava chapéu de couro
Quando se encontrou com Louro
Pra fazer um trocadilho
Pensou em um estribilho
Em fazer algo legal
Teve idéia genial
Falou de Lucro e Salário
Defendeu o proletário
Escreveu O Capital

Se embrenhou na caatinga
Pra falar de Mais Valia
Entrou numa cantoria
E bebeu logo uma pinga
Um bebo com a catinga
De mortos queimados vivos
Bateu palmas, deu dois silvos
Deu um grito, lá do fundo
Esse diz pra todo mundo:
- Trabalhadores, uni-vos!.

Quando o forró começou
Quis fazer uma assembléia
Porém chegou uma véia
Que com ele se agarrou
Ele fogo não negou
Mostrou a foice e o martelo
A véia mostrou o pinguelo
E montou uma barricada
Chamou-o pr’uma trepada
Pra deixar de ser donzelo

Quis falar do Manifesto
E a véía manifestou-se
Disse: - Agora lascou-se
O homi só quer protesto
Parece até que eu não presto
Que não gostou do que eu fiz
Não quis sequer fazer bis
Ou por mais não ter vontade,
Ou por estar com saudade
Das Comuna de Paris

Depois de dançar com a véia
Se agarrou com os oito-baixo
Virou sanfoneiro macho
E começou fazer gréia
Tomou cana com geléia
Fez sextilha, fez quadrão
Depois deu um empurrão
Num soldado de polícia
E dedada com malícia
No rabo de um ladrão

Propôs a expropriação
Do estoque da bodega
Se juntou com uma cega
Pra comandar a ação
Findou a exploração
Em Tabira e São José
Baixou o preço do mé
Acabando com o lucro
Montou um cavalo xucro
E partiu pro cabaré

Pra não ficar isolado
Mandou chamar Friedrich
Engels, que chegou num pique
Todo metido a letrado
Vendo o lugar parado
Pediram uma aguardente
A uma moça contente
Cujo corpo se rebola
Pegaram logo a viola
E começaram o repente

Começaram pel’Origem
Da Família e do Estado
E do Bem que é Privado
Provocando a moça virgem,
Que findou tendo vertigem
Ouvindo o palavreado
Tão difícil e complicado
Que acabou vomitando
E o povo inteiro gritando:
“Deixa a moça, véi safado!”

Mas os dois continuaram
Cada qual cantando um tópico
Do Socialismo Utópico
E a todos espantaram
Depois foi que eles chegaram
Ao Comunismo Cientifico
Falaram do frigorífico
Que explora todo mundo
E deram pra Seu Raimundo
Mais um título honorífico

Pra ganhar dos comunistas
Pinto e Louro ali chegaram
E, ligeiro, ensinaram
Quem eram os repentistas
Calaram os socialistas
Até o raiar do dia
Com Coqueiro-da-Bahia,
Dez pés de queijo caído
Com repique e remoído
Esquentando a cantoria

Quando ouviram o Quadrão
Os barbudos foram embora
Em menos de meia-hora,
Abandonaram o Sertão
Saíram num carreirão
Por serra, morro e montanha
Numa montaria estranha
Que os dois tinham roubado
E no tal jumento alado
Voaram pra Alemanha

Não se sabe se é verdade
Se é lorota ou mentira
Mas eu sei que em Tabira
Se diz com sinceridade
Que um dia a cidade
Recebeu um alemão
Que fez a revolução
No meio da cantoria
E que durante esse dia
Foi comunista o sertão

Ilustração: Aquarela de Mauro Andriole.

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